Prefeitável do PSB está em Medellin, na Colômbia, município que conseguiu se livrar do estigma da violência endêmica na década de 1980, quando era dominado pelo cartel do emblemático narcotraficante Pablo Escobar; segundo o empresário, a cidade colombiana, que investiu maciçamente em arte, educação e numa cultura cidadã, tem muito a ensinar a Goiânia em como auxiliar os esforços dos governo estadual e federal no combate à criminalidade
Medellin, na Colômbia, cidade que conseguiu se livrar do estigma da violência endêmica na década de 1980 quando era dominada pelo cartel em emblemático narcotraficante Pablo Escobar, tem muito a ensinar a Goiânia no aspecto da segurança pública. A opinião é do pré-candidato a prefeito Vanderlan Cardoso (PSB), que está na cidade para conhecer experiências bem sucedidas de gestão urbana na segunda cidade colombiana.
Medellin experimentou uma transformação sem precedentes nos últimos 20 anos, quando reduziu sensivelmente os índices de criminalidade na região metropolitana, que congrega 10 municípios e cerca de 3,5 milhões de habitantes. Os homicídios, por exemplo, caíram surpreendentes 80%. A cidade colombiana, inclusive, deixou o ranking das mais violentas do país caribenho. No ranking anual da ogn mexicana Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal, em 2016 a Colômbia possui duas cidades entre as 10 mais violentas do mundo. Mas Medellin não aparece sequer entre as 50. Segundo esse levantamento, Goiânia aparece na triste posição de 29ª cidade mais violenta do planeta.
Mas o que fez uma cidade marcada pelo crime se distanciar de suas irmãs e hoje servir de exemplo para as demais metrópoles latino-americanas? Parece simples: investimento em arte, em educação, bibliotecas e numa forte cultura cidadã. Além, claro, do aparelhamento do sistema repressor, com ações de patrulhamento ostensivo e de inteligência.
”Guardadas as peculiaridades e diferenças das legislações colombiana e brasileira, no Brasil os estados são constitucionalmente responsáveis pela segurança, podemos tomar uma infinidade de medidas para auxiliar as forças policiais no combate à violência. A educação e a cultura, por exemplo, são atribuições também do município. E especialmente nessas áreas Medellin tem deixado um legado comovente. O povo daqui sofreu demais com o narcotráfico e conquistou sua cidadania com muito custo. Goiânia caminha para uma criminalidade incontrolável e cabe ao próximo prefeito assumir suas responsabilidades e impedir que isso aconteça. Se o povo me der essa missão, Medellin certamente será uma inspiração”, afirma Vanderlan.
Na quarta-feira (25) foi apresentado a Vanderlan em detalhes o plano de segurança municipal. O executivo Daniel Vasquez, representante da Agência para a Cooperação e Investimento de Medellín e Região Metropolitana (ACI), instituição dedicada a promover as mudanças implantadas pela cidade e atrair investimentos, sintetiza o espírito do plano: “Usamos a educação e a cultura como motivo para ocupar e fazer uma boa intervenção nas comunidades mais carentes de Medellín”. Grandes projetos foram implantados nos morros e favelas da cidade, mudando radicalmente a vida das pessoas que ali residiam cercadas pelo medo e pela desesperança há algumas décadas.
Vasquez explicou que o trabalho feito nas comunidades tem como base a educação infantil. A prefeitura dedica atenção especial às crianças e jovens, afastando-os da criminalidade. “O atendimento às crianças é feito com uma educação de qualidade e um acompanhamento dirigido, com auxílio de profissionais altamente qualificados, o que mudou a vida das pessoas na comunidade”, diz.
Ele explicou que a ACI foi fundamental na mudança de Medellín, por conseguir atrair o interesse de investidores estrangeiros. “Essa instituição permite a Medellín conseguir cooperação internacional sem depender do governo central. Então, quando os objetivos do governo e da cidade são diferentes, nós temos autonomia para buscarmos os aportes necessários para investir.”
“Penso que qualquer prefeito pode aplicar o sucesso de Medellín em sua cidade. Tudo que ocorreu aqui nós buscamos de outras cidades e agora outros governantes vem aprender com Medellín. Temos implementado muitos projetos de outros lugares e agora outras cidades implementam nossos modelos adaptando-os às suas necessidades”, completa Vasquez
Responsabilidade municipal
Segundo o executivo da Secretaria de Segurança e Convivência, Juan Aristizabal, Medellin só deixou de ser uma das cidades mais violentas do mundo porque as autoridades municipais decidiram assumir o problema e trabalhar juntos aos demais poderes, disposição que Vanderlan tem manifestado em seguidas entrevistas. No sistema colombiano, o prefeito é a autoridade máxima na questão de segurança na cidade, embora o governo central e as forças armadas concentrem também atribuições convergentes. “No caso de Medellin, houve uma tomada de posição em que o prefeito trouxe para si a responsabilidade pelo combate à criminalidade”, confirma Aristizabal.
A Secretaria de Segurança e Convivência foi criada para implementar o Plano Integral de Segurança e Convivência (Pisc), um grande exercício de planejamento que partiu da ideia não apenas de resolver os problemas de segurança e convivência apresentado um dia no dia da cidade, mas especialmente evitar que estas situações surgam, antecipar as ações criminosas para evitar que a violência afete a vida dos cidadãos. O objetivo foi, a médio e longo prazos, alcançar o completo desmantelamento das estruturas criminosas.
O Pisc deu a linha de ação para o prefeito de Medellín agir, com foco nos fenômenos que afetavam a segurança e a convivência na cidade, a partir de um esforço responsável e articulado entre os órgãos de segurança, Justiça e demais secretarias municipais. É uma ferramenta de gestão construída a partir de um planejamento estratégico de combate à violência. No geral, o Pisc visa melhorar a qualidade de vida dos cidadãos nos aspectos de segurança propriamente, derivando para hábitos de vida saudável e respeito pela vida, numa perspectiva de combinar prevenção e cuidados e também reação à criminalidade.
Planejado para atingir a seus objetivos em quatro anos, o Pisc tem cinco focos: o desmantelamento e redução das estruturas criminosas; impedir a utilização de crianças e jovens por grupos criminosos; combate à violência cotidiana (doméstica, interpessoal, homicídios); redução de roubos a pessoas, a residências e o roubo de veículos; e a comunicação pública para divulgar ações e estratégias para melhorar a segurança da cidade.
Cultura e educação
O investimento em arte, cultura e educação foram determinantes para o processo de pacificação de Medellin. Capital do departamento de Antioquia, a cidade aproveitou a vocação universitária e construiu uma rede de 20 bibliotecas públicas partindo da periferia para o centro, oferecendo às populações excluídas acesso ao conhecimento. As bibliotecas, muitas cercadas por parques e centros de convivência comunitária, reavivaram a cultura cidadã, onde a própria população, orgulhosa de suas raízes e origens, cuida do patrimônio público.
Um desses espaços é o Parque San Javier. Lá a população encontra biblioteca, um Centro de Desenvolvimento e Negócios (Cedezo), que visa a apoiar o empreendedorismo, a geração de renda, o desenvolvimento e a consolidação de microempresas nos bairros da cidade; salas para leitura de crianças e adultos com livros de todas as tendências literárias e acervo multimídia.
A biblioteca tem salas de leitura adaptadas a cada idade, tornando o exercício da leitura uma experiência ainda mais prazerosa; Sala de Navegação Virtual, com mais de 100 computadores com acesso gratuito à Internet; auditório para 236 pessoas com todas as dependências, disponível para apresentações teatrais e musicais, por exemplo; a Sala do meu Bairro, um espaço com dados textuais, fotográficos e fílmicos sobre os bairros da cidade; e a Ludoteca, uma sala recreativa e educativa para as crianças.
