O novo livro de Larissa Mundim tem potencial para provocar a empatia e estimular o desejo de compartilhar, nos leitores e leitoras. Publicado pela Nega Lilu Editora, faz rs conta com ilustrações de Sophia Pinheiro e é composto por curtíssimas narrativas e textos reflexivos do nosso tempo, criados a partir da observação do outro. Produzido com apoio do Fundo Estadual de Arte e Cultura, seu lançamento nacional está programado para 18 de março (sábado), durante a Plana – Festival Internacional de Publicações Independentes de São Paulo, no Pavilhão da Bienal, no Parque Ibirapuera.
Em um universo de, aproximadamente, 1.200 posts (Facebook e Twitter), o conteúdo de faz rs teve, primeiramente, pré-seleção realizada pela autora. Em seguida, a curadora Isabela Preto Junqueira foi convidada a eleger, entre os 320 textos pré-selecionados, 80 para publicação. O suprassumo deste trabalho literário, produzido ao longo de dois anos, foi reconhecido pela autora e pela curadora a partir da manifestação de leitores na web que, efetivamente, foram os primeiros colaboradores na indicação de “melhores textos”, no caso, os mais curtidos.
“O segundo aspecto que orientou a curadoria foi a capacidade de difusão da mensagem ou seu potencial de compartilhamento, seja em meio virtual ou na vida real”, conta a professora e arte-educadora, Isabela Preto Junqueira. Dessa forma, segundo ela, ganhou espaço em faz rs o conteúdo que dialoga mais com as humanidades e que reflete comportamento e linguagem do nosso tempo.
Menos narrativos, alguns textos se apresentam ambivalentes, ambíguos e, portanto, permitem acesso ampliado ao background (bagagem de conhecimento) de cada leitor. “Eu gosto da ideia de que a minha literatura dialoga e busca compreender como se pensa e se age neste momento em que a cibercultura está instalada, mas ainda nos surpreende, provoca estranhamento e demanda adaptação”, relata Larissa Mundim.
Nem romance, nem poesia, faz rs não tem classificação por gênero literário, do ponto de vista da estrutura. A autora também não reconhece os textos do livro como frases, apesar de curtíssimos. Para ela, são conteúdos integrais e finais, não são fragmentos de outro contexto: “Não existe sentença antes ou após”, revela. Aberto a interpretações diversas, o conteúdo foi organizado, pela autora e pela curadora, de forma que contasse histórias dentro de histórias, podendo a narrativa ter continuidade de uma página para a outra ou não. “Mas sempre com breve duração”, ressalta Larissa.
Fôlego
A estreia da jornalista Larissa Mundim como escritora de ficção foi em 2013, experimentando a arquitetura e a estética de e-mails e chats, em seu romance inaugural, Sem Palavras, escrito com a coautoria de Valentina Prado. No ano seguinte, publicou Agora eu te amo, um exercício não-convencional de prosa tradicional e, em 2015, lançou a biografia do Coletivo Esfinge, Operação Kamikaze. Em março deste ano, emplacou o experimento gráfico-literário Prepiscianas – vol. 1, produzido em conjunto com Carol Schmid.
Para seu novo projeto literário, a ideia era fazer um livro ilustrado por um desenho que tivesse “identidade e simplicidade como força”. Para Larissa, a parceria com a artista e designer gráfico, Sophia Pinheiro, consumou-se com o status de coautoria também: “Posterior ao trabalho de curadoria, as ilustrações feitas para faz rs são a primeira releitura do meu trabalho, com total apropriação. Coisa linda é ver a obra transformada”, comenta.
A ilustradora Sophia Pinheiro conta que vivenciou um processo de imersão no trabalho e que teve muita liberdade de criação. Segundo ela, alguns dos textos “deslizaram na mão como se sempre existissem, como se cada linha, cada ponto, já estivesse sendo criado virtualmente nas ideias e viessem à vida no simples contato entre a caneta e o papel”. Outros, no entanto, já eram mais temperamentais: demoraram a sair, foram refeitos, conversavam com ela.
“É preciso estar atento à cada ilustração, à cada traço e detalhe, que se conectam pelas linhas imprecisas. Como gesto de criação conjunta (da equipe e de cada leitor e leitora), faz rs desvenda segredos do que não está totalmente visível em cada imagem-palavra e imagem-desenho”, ressalta. Na percepção de Sophia, o livro é um pedaço do outro, que nos habita.
Desapego
Neste contexto sugestivo de compartilhamento de conteúdo da obra com outras pessoas, o Design se integra ao projeto de maneira fundamental. Responsável pela coordenação editorial da Nega Lilu Editora, Larissa Mundim divide a concepção material do livro com Paulo Batista (designer gráfico e publicitário), Carlos Sena (produtor gráfico) e, por fim, com Luana Santa Brígida (designer gráfico).
“Faz rs é um livro que deseja surpreender pela simplicidade e arrojo – sem luxo, apenas criatividade –, uma tendência do mercado editorial, que mantém diálogo direto com o leitor interessado em vivenciar experiência durante a leitura”, lembra Larissa. Para isso, no miolo do livro as páginas estão divididas ao meio por um corte serrilhado, bem como capa, contracapa e orelhas. “Se o leitor atender ao impulso de destaque da página, para compartilhamento, o livro cumpre seu ideal”, pontua o produtor gráfico, Carlos Sena.
O projeto gráfico estimula inclusive a adesão daqueles que tratam seus livros como objetos intocáveis. No caso de faz rs, o ato de arrancar uma página sugere um exercício de desapego sem perda: a maioria dos textos tem sua impressão duplicada (nas duas metades separadas pelo picote) para que, com todas as páginas do livro arrancadas, o leitor ainda detenha para si o conteúdo, num impresso que passa a ter formato bolso. “De um jeito potencializado, vamos ampliar o alcance de circulação do livro, ainda que de forma fragmentada, agora em plano físico – exatamente como foi, um dia, na web”, arremata Larissa Mundim.
Serviço:
Lançamento do livro faz rs, de Larissa Mundim, com ilustrações de Sophia Pinheiro. Editora: Nega Lilu
Preço de capa: R$ 30
Data: 18 de março 2017
Local: Plana – Festival Internacional de Publicações Independentes de São Paulo