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Clínica de Finanças: A preocupante situação da classe média

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em diversos países do mundo a classe média tem visto seu padrão de vida estagnar ou cair, enquanto grupos com rendas mais altas continuaram a acumular renda e riqueza.

Mas definir ‘classe média’ pode ser difícil e confuso. Como a OCDE analisa os números de diversos países com condições sociais e econômicas díspares, foi preciso criar uma espécie de referência para a comparação. Assim, para a Organização, “classe média são os lares onde a renda fica entre 75% e 200% da média nacional do país”. No Brasil, a renda bruta nacional per capita (2017) foi projetada em US$ 15.160. Dessa forma, temos: 15.160 x 4 / 12 = R$ 5.053,00. Segundo a OCDE, no Brasil classe média seria a família que tivesse renda mensal entre R$ 3.789,00 (75% da média nacional) e R$ 10.106,00 (200% da média nacional). Já segundo o IBGE, a classe média compreende a classe B (renda familiar entre R$ 9.980,00 e R$ 19.960,00) e a classe C (renda entre R$ 3.992,00 e R$ 9.998,00). Vejam que a disparidade é grande, principalmente no teto.

Dito isso, vamos ao que apurou o levantamento. Em diversos países do mundo, a classe média tem visto seu padrão de vida se deteriorar. Grande parte da classe média está financeiramente vulnerável – ou seja, se encontra incapaz de lidar com gastos inesperados ou quedas repentinas na renda – e endividada. Nos países que fazem parte da organização, mais de um em cada cinco lares de classe média gasta mais do que ganha, o que gera um risco altíssimo de endividamento excessivo. Esse nível varia de 10% em países como a Estônia e a Polônia a mais de 50% no Chile e na Grécia. No Brasil (que aguarda resposta para seu pedido de integrar a instituição) o índice chega a 27% dos lares de classe média.

Mas o que significa para um país e sua economia ter uma classe média forte e próspera?  Ora, ela é o esteio de qualquer economia, e não os ricos. Estes, quando acuados, transferem seu patrimônio – principalmente se ele for formado por recursos financeiros e não por ativos móveis e imóveis. Já a classe média não consegue essa mesma oportunidade. O consumo da classe média engorda o caixa dos governos através dos tributos, assim como é ela quem mais é taxada com relação à renda. É também ela quem faz a festa dos bancos, com sua poupança e reservas de investimento. E, na crise, é quem paga os juros absurdos que o sistema financeiro cobra.

Já sobre a realidade brasileira podemos dizer que ela segue essa tendência mundial de estagnação do padrão de vida, do comprometimento da renda e até do aumento do endividamento. Porém, com um viés mais preocupante: temos que adicionar ao problema registrado mundialmente o fato de o brasileiro ter pouco ou nulo conhecimento financeiro. Assim se torna presa fácil de credores inescrupulosos e de bancos que acabam faturando verdadeiras fortunas em cima dessa ignorância.

A pergunta do momento é: como mudar esse cenário no Brasil, principalmente agora com troca de governo e de viés político/ideológico? Alguns pontos precisariam ser atacados com urgência:

1º – fiscalização severa quanto aos juros cobrados pelas instituições financeiras, e abertura do mercado para novos atuantes;

2º – incentivo ao empreendedorismo, com capital público sendo oferecido a taxas convidativas para os pequenos empreendedores. Essa é a base de uma economia sólida. A economia de um país não vive apenas de grandes empresas;

3º – reformas estruturais (aqui, previdenciária, trabalhista e tributária) para facilitar a vida do cidadão comum. Desmonte da máquina pública, substituindo a mão-de-obra humana por informatização e automação no que for possível;

4º – completa desburocratização do Estado, fortalecendo agências e autarquias de controle e fiscalização;

5º – desfazer-se de tudo o que não seja fundamental para a finalidade primeira de um governo, que é proporcionar bem-estar, desenvolvimento e tranquilidade ao seu povo.

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