É preciso indicação médica e dieta equilibrada para obter bons resultados, segundo o nutrólogo Arthur Rocha
A Semaglutida para o tratamento da obesidade foi oficialmente aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no segundo dia do ano de 2023. O medicamento, que vai ser comercializado como “Wegovy”, vem sido estudado como uma inovação no tratamento de obesidade desde 2018 e vai ser disponibilizado no Brasil ainda neste ano.
O fármaco trata-se de injeções semanais de análogos ao hormônio GLP-1, Glucagon-like Peptide-1, que é produzido pelo nosso intestino e liberado na presença de glicose, responsável por sinalizar ao cérebro que estamos alimentados, diminuindo o apetite e resultando na perda progressiva de peso.
O medicamento passou por diversos testes que possibilitaram aos especialistas identificar as melhores dosagens e a recomendação ideal para os pacientes. Nos estudos de pré-aprovação, os voluntários, que modificaram a rotina física e alimentar, sofreram uma perda entre 15 e 17% do peso corporal, quando tratados com a dose adequada do medicamento. Enquanto os participantes do grupo tratado com o placebo, seguindo a mesma rotina diária, emagreceram somente 3% do peso inicial.
A pesquisa ainda evidenciou a superioridade da nova droga em comparação aos que já estavam disponíveis no mercado para essa finalidade, que demonstraram uma média de somente 9% na taxa de perda de peso dos pacientes.
O medicamento não é novidade no mercado
Apesar da Semaglutida ter sido aprovada para o tratamento da obesidade recentemente, o medicamento já existe há algum tempo no mercado. Em 2018, a Anvisa aprovou o uso da Semaglutida no Brasil para o tratamento de Diabetes tipo 2 e, até então, era comercializada em doses orais de até 14mg ou uma injeção de até 1 mg.
Dessa forma, essencialmente, as mudanças trazidas pela aprovação da Anvisa são a prescrição na bula e a nova formulação de 2,4 mg por dose, que atinge a dosagem semanal ideal, ao contrário da versão antiga de dose diária.
Como é o processo do tratamento
Segundo o nutrólogo Arthur Rocha, “o papel do princípio ativo é inibir a fome, mas muitas pessoas deixam de comer não por falta de saciedade, mas sim por ansiedade, compulsões, transtornos psiquiátricos. Perder peso porque não está comendo nada não é saudável”.
Ele ressalta que, por isso, é essencial que o paciente tenha indicação médica para começar o uso do medicamento.
O processo do tratamento é extenso e começa com a dose mínima de 0,25 mg. Isso se deve ao período de adaptação do organismo aos efeitos da medicação, que afeta o funcionamento do intestino, podendo ocasionar desde náuseas à refluxo.
O tratamento não tem média de término estipulada. Visto que a obesidade é uma doença crônica e cada organismo é diferente, a extensão do tratamento depende de quanto peso o indivíduo precisa perder e seu desempenho ao longo do processo.
“Se a alimentação não melhorar, é provável que a pessoa tenha mais efeitos colaterais e ganhe o peso de volta rapidamente.”
Sem as mudanças na rotina, o paciente tende a perder, além da gordura, grande percentual de massa magra, prejudicando a própria saúde e, consequentemente, até mesmo o processo de emagrecimento”, complementa Arthur.
A bariátrica está se tornando antiquada?
A Semaglutida e outros análogos a GLP-1 evidenciam cada vez mais sua eficácia no tratamento para emagrecimento, possibilitando uma grande mudança na área das cirurgias que visam o mesmo resultado.
Outra molécula semelhante, recém-aprovada nos Estados Unidos, alcançou 25% na redução de peso. Então, esperamos que a categoria possa eliminar a necessidade de operar muitos pacientes.
Ainda que o futuro seja promissor, a semaglutida promove o emagrecimento em até 17% do peso do paciente, enquanto a intervenção cirúrgica alcança margens de até 50%, tornando a bariátrica ainda necessária, especialmente em quadros mais severos da obesidade ou pacientes que não responderam bem à medicação.
O medicamento não é uma solução final, mas uma ferramenta dentro de um tratamento completo, com acompanhamento multidisciplinar, com nutricionista, educador físico e, não raramente, psiquiatras e psicólogos.