Pesquisa da UFPE revela que número de mortes por infarto aumenta quase 9% no período de vigência do fuso horário. Médica do trabalho indica que mudança gera desequilíbrio no relógio biológico, o que pode acarretar em desatenção, sonolência e consequentes acidentes, retrabalhos e prejuízos. Trabalhadores falam dos prós e contras da mudança
Neste domingo (15) teve início o horário de verão, medida que faz os relógios serem adiantados em uma hora nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste com o objetivo de reduzir o consumo de energia. A mudança no relógio pode exigir cuidados para a adaptação do organismo, mas principalmente, provocar alterações na rotina, inclusive modificações imediatas para o desempenho físico e do humor da população.
A pesquisa "Horário de verão e a incidência no infarto agudo do miocárdio", da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), aponta que alteração no relógio biológico provocada pelo fuso horário pode causar um aumento de 8,5% no número de mortes pela doença. Segundo o estudo, pessoas acima de 60 anos. O levantamento faz parte de uma tese de doutorado e utilizou dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.
A opinião da médica do trabalho Patrícia Montalvo Moraes é que o nosso relógio biológico, se adapta, aproximadamente, entre uma e duas semanas ao horário de verão. Segundo ela, não existem estudos concretos que avaliem o custo-benefício da implantação do novo horário no âmbito laboral, mas a profissional lembra que dormir menos faz com que indivíduos levem mais tempo para se concentrar. "Essa desatenção pode gerar retrabalhos, demora para conclusão de tarefas simples , diminuição da produtividade e pode acarretar até mesmo em acidentes no seu ambiente de trabalho”.
Em contrapartida, os efeitos da mudança são comprovados pela Medicina. De acordo com a médica, a adaptação ao horário de verão varia muito de cada pessoa e depende da predisposição genética de cada indivíduo. “Existem pessoas de perfis matutino e vespertino, as quais apresentam rendimento melhor nesses horários. Por exemplo, os indivíduos vespertinos ganham uma hora a mais de luz durante o dia para aproveitar o período em que são mais produtivos e com o pôr do sol mais tarde, a maioria deles consegue render mais no horário de verão. Os indivíduos matutinos vão dormir também mais tarde, mas por estarem acostumados, acordam cedo, ou seja, reduzem o tempo de sono.
A opinião da médica do trabalho Patrícia Montalvo Moraes é de que não, não vale a pena. Segundo ela, que atende no Serviço Social da Indústria da Construção Civil do Estado de Goiás (Seconci-GO), entidade que presta serviços de saúde sem custo para trabalhadores do segmento, não existem estudos concretos que avaliem o custo-benefício da implantação do novo horário, no entanto, os efeitos da mudança são comprovados pela Medicina. “A adaptação varia muito de cada pessoa, afinal é uma predisposição genética. Dormir menos faz com que indivíduos levem mais tempo para se concentrar. Essa desatenção pode gerar retrabalhos, prejuízos – uma vez que a pessoa levará mais tempo para concluir uma tarefa simples – e até acidente”.
Para a médica, no geral, ter que refazer a rotina pode levar a uma situação de estresse, que pode ser ampliada por uma condição social de risco. “Sair de madrugada, no escuro aumenta a sensação de insegurança, o que pode gerar impacto na qualidade de vida da pessoa e estresse suficiente para impactar as outras atividades do indivíduo”.
Trabalhadores contam a rotina
O adiantamento do relógio em uma hora causa estranheza para o trabalhador Weliton Silva, atuante no ramo da construção civil em Goiânia. Weliton diz sentir muita dificuldade para se adaptar ao novo horário, principalmente pela manhã porque normalmente se levanta às 5h30 e, a partir de domingo (15), o despertador vai tocar às 4h30. Ele bate o ponto no trabalho às 7h. “O dia se torna mais cansativo porque levantamos mais cedo. Parece pouco uma hora, mas no final das contas faz uma grande diferença”, conta.
Weliton Silva (25) mora no Setor Vera Cruz em Aparecida de Goiânia e trabalha na obra do Sinfonia Eco Design, da Loft Construtora, no Marista. Ele explica que além de ter dificuldade de adaptação, se sente inseguro ao sair de casa. “É muito cedo, saio de casa ainda no escuro e como a cidade anda tão violenta, a gente fica mais vulnerável a assaltos”.
Maria Onilde Araújo Silva (58) é auxiliar de limpeza na obra do Sinfonia Eco Design. Ela levanta às 4h da manhã todos os dias para pegar o ônibus no Setor Colina Azul, em Aparecida de Goiânia. Para ela, a rotina fica ainda mais pesada com o horário de verão. “Eu não gosto desse horário de jeito nenhum. Sinto indisposição, cansaço e até fadiga e, quando o organismo começa a adaptar, já está voltando ao horário normal. Toda vez que tem horário de verão, vou cochilando no ônibus de casa até o trabalho, é muito penoso”, conta.
Já para o almoxarife Antoniel dos Santos Oliveira (26) o horário de verão não traz dificuldade de adaptação. Ele mora a 10 quilômetros do trabalho e, mesmo usando bicicleta como meio de transporte, diz não sentir diferença com o adiantamento do relógio. “Eu até gosto do horário, acho mais fresco, o clima fica melhor e, com o dia mais longo, tenho a sensação de ter mais tempo para fazer as coisas. Até uma horinha extra a gente consegue fazer”, diz.