Muitos estrangeiros, à procura de mais qualidade de vida e até mesmo fugindo de catástrofes ambientais, buscam no Brasil trabalho para se estabilizarem. Segundo a Coordenação Geral de Imigração (CGIg), do Ministério do Trabalho, apenas no 1º trimestre de 2016 foram emitidas 8.066 carteiras de trabalho para estrangeiros, destes, 3.397 – o que representa 42,11% – são haitianos. Já em 2017 foram 7.989 carteiras, 3.017 são para haitianos, quase 38% das carteiras de trabalho.
O Brasil foi um dos principais destinos dos haitianos a partir de 2010, somando-se a destinos tradicionais como Estados Unidos, Canadá e República Dominicana. Em torno de 4,5 milhões de haitianos – quase metade da população – vive no exterior em busca de estabilidade política e social, além das catástrofes naturais como o terremoto. No mercado de trabalho formal goiano, os vínculos de profissionais estrangeiros atingiram 1.365 em 2014, passaram para 1.746 em 2015 e recuaram 12,5% em 2016, totalizando 1.528 carteiras assinadas. Os números são do Comitê de Políticas de Migração do Estado para imigrantes e refugiados da Secretaria Cidadã.
Em Goiás, a maioria dos trabalhadores estrangeiros é de origem de países da América Latina. A participação desse grupo no mercado de trabalho formal goiano cresceu de 44,62%, em 2014, para 57,59% em 2016. Em seguida, estão os europeus e asiáticos, com 24,91% e 8,79% em 2014 e 18,91% e 10,27% em 2016, respectivamente. Mas o destaque das imigrações no Estado são os haitianos. Segundo os dados do Comitê da Secretaria Cidadã, os cidadãos desta nacionalidade elevaram consideravelmente o número de latino-americanos no mercado formal, sendo a nação com a maior participação entre vínculos empregatícios em Goiás.
Em prol deste sonho, vários haitianos vieram para o Brasil e dois, em especial, vieram para Goiás e arrumaram emprego em uma indústria de alimentos: Altimo Kenet, de 28 anos e seu primo, Yveno Bacette, de 33 anos. Altimo veio primeiro à procura de mais qualidade de vida no Brasil. Ele chegou sozinho há um ano em Santa Catarina, e trabalhou por sete meses em uma indústria neste Estado. Há cinco meses veio para Goiás e iniciou sua trajetória na GSA como auxiliar de produção há sessenta dias.
Ele deixou para trás a esposa e o filho. O objetivo dele é estudar e construir carreira profissional. “Penso em cursar engenharia civil aqui no Brasil e trazer minha a esposa e meu filho para viverem comigo”, sonha.
Já seguindo os passos de seu primo, Yveno veio em busca de mais qualidade de vida e oportunidade de crescimento profissional. “O Brasil tem muitas oportunidades”, revela. Hoje, os dois primos moram juntos.
Yveno está no Brasil e em Goiás há cinco meses. Há dois meses conseguiu trabalho na indústria de alimentos, GSA, localizada em Aparecida de Goiânia. O auxiliar de produção deixou para trás a esposa e três filhos. “Quero trazê-los o quanto antes. Não pretendo deixar o Brasil”, enfatiza. O sonho de ambos é trazer a família para morar com eles no Brasil. A dupla sente muita falta deles, mas para trazer cada membro o custo é muito alto. Fica em torno de R$ 7 mil.
Questionado pelo motivo que deixou a família, Yveno é claro em dizer que o Haiti não oferece muitas oportunidades de emprego. “Na verdade falta emprego para a maioria da população. Quero melhor qualidade de vida para a minha família. O Brasil é um país maravilhoso. Quero estudar e fazer algum curso de nível superior, mas ainda não decidi qual cursar”, revela.
O Diretor Financeiro e de RH da GSA, Victor Leal, explica a troca de culturas é importante para a GSA e, principalmente para os colaboradores. “Apoiar quem precisa é um dos pilares da nossa empresa”, enfatiza.
O Haiti
O país fica no Caribe. A migração haitiana é considerada o maior fenômeno migratório da década para o país. A República do Haiti sofreu, no dia 12 de janeiro de 2010, um abalo sísmico de grandes proporções cujo epicentro próximo da capital, Porto Príncipe, implicou consequências catastróficas para a população do país. A organização humanitária Cruz Vermelha estimou em 3 milhões o número de pessoas afetadas pelo terremoto.
O país é um dos mais pobres do planeta e com baixo patamar de desenvolvimento humano. O volume de haitianos que deixaram o país em busca de melhores condições de vida aumentou consideravelmente. De acordo com um cálculo feito a partir das estimativas das Nações Unidas (ONU) para o estoque internacional de migrantes, a proporção de haitianos morando fora do seu país de origem em 2010 era de 9,9% em relação ao total de haitianos (incluindo os que moram no Haiti) e teria passado a 10,1% em 2015, o que equivale a um aumento de 103.215 haitianos morando fora do Haiti. Além disso, segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) estima-se que o número total de pessoas em condições de refúgio ou semelhante provenientes do Haiti saltou de 33.097 em 2010 para 73.094 em 2014.