Desde o início da pandemia, a literatura médica registrou um aumento de mortes súbitas entre esportistas com menos de 35 anos. Os riscos estão relacionados à miocardite, condição secundária ao novo coronavírus que causa inflamação no coração.
De acordo com o cardiologista Luiz Eduardo Souza Mendonça, responsável pela avaliação cardiológica da comissão técnica profissional do clube, a miocardite pode levar à morte repentina durante alto grau de esforço físico. Por isso, com a emergência sanitária, foi preciso mudar o foco das avaliações nos jogadores que foram infectados pela Covid-19.
“Passei a solicitar, também, avaliação laboratorial, com alguns exames de sangue, eletrocardiograma, ecocardiograma, teste ergométrico, a fim de procurar alguma alteração ou algum sinal que sugere a miocardite. Se houver, a gente prossegue a investigação com um exame bem mais detalhado, que é a ressonância cardíaca, para fechar ou não um diagnóstico de miocardite”, conta Luiz Eduardo.
Cerca de 25 jogadores do Goiás já testaram positivo para a Covid-19, conforme lembra o cardiologista. “Felizmente, estão todos bem, mas nossa atenção está redobrada. É uma preocupação que já foi manifestada, inclusive, pela CBF [Confederação Brasileira de Futebol]. Estamos sendo mais minuciosos, pois não podemos deixar passar nada que nos sugira que os atletas, depois da Covid, tenham qualquer sequela no coração. Se encontrarmos algo importante, é prudente afastar o jogador das atividades profissionais por, no mínimo, dois meses. Atuamos na prevenção justamente para evitar uma tragédia, pois os riscos são ocultos”, explica.
Estudos científicos
Segundo um levantamento do Atlantic Health System, pelo menos dez das principais universidades americanas têm mais de 12 atletas que testaram positivo para Covid-19 e que, agora, apresentam sinais de miocardite. A inflamação afeta de 7% a 23% dos pacientes hospitalizados por causa da infecção pelo novo coronavírus, apontam os estudos.
Pesquisadores do Hospital Universitário de Frankfurt, na Alemanha, publicaram no Jama Cardiology um trabalho que reforça a ideia de que a Covid pode causar morte súbita em atletas. Eles usaram uma ressonância magnética de última geração para avaliar o coração de 100 indivíduos que tinham se recuperado da infecção pelo Sars-CoV-2. O exame acusou a miocardite em nada menos do que 60 participantes – 60% dos casos. A partir desse dado, estima-se, 9% das mortes súbitas de esportistas jovens acontecem por sobrecarga em um músculo cardíaco inflamado.
“O acompanhamento mais cuidadoso aos esportistas – profissionais ou amadores – que tiveram Covid é essencial, principalmente porque, neles, os sintomas da miocardite são menos específicos. Em vez da dor, o que costumam sentir é uma queda no rendimento. Então, eu recomendo a avaliação cardiológica frequente para esses casos”, conclui Luiz Eduardo.