Crianças seguem em acompanhamento no Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), em Goiânia, após mais de 15 horas de cirurgia. Goiás é referência nacional procedimento, que poderia custar cerca de R$ 1 milhão na rede privada
O Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad) divulgou, na manhã desta quinta-feira (12/01), que as gêmeas Valentina e Eloá Prado dos Santos, de 3 anos, seguem na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da unidade, respirando por aparelhos e necessitando de medicamentos para o controle da pressão arterial. “A cirurgia das gêmeas siamesas Valentina e Eloá foi um sucesso”, afirmou o médico Zacharias Calil. Para ele, o quadro de saúde das crianças está dentro do esperado para o delicado pós-operatório.
A operação demorou mais de 15 horas, com separação do fígado, intestino, sistema urinário, bexiga e parte óssea, além da reconstrução da genitália, abdômen e pele. A cirurgia foi a primeira deste perfil no Hecad, que teve reuniões periódicas por 10 meses para planejar o procedimento. “É uma cirurgia muito complexa, com o corte da comunicação de sangue, pele e intestino, entre outros órgãos. Sempre podem acontecer intercorrências, contudo ocorreu tudo muito bem”, completou Calil.
Essa foi a vigésima segunda cirurgia de separação de siameses do profissional, que considerou o caso desafiador devido à complexa união dos dois intestinos. O médico destacou que, apesar de altamente complexa, a separação foi totalmente realizada pelo SUS. “Nos EUA, um procedimento como esse custa mais de um milhão de dólares. Aqui, se calcularmos os honorários médicos, estrutura hospitalar, medicamentos, materiais, equipamentos, entre outros gastos, não sairia por menos de R$ 1 milhão”.
Calil também lembrou que o Hecad é referência em assistência de alta complexidade com uma estrutura de ponta. “Falo com muita segurança que no Brasil não temos um hospital com essa qualidade. Estamos muito bem equipados, com o que existe de melhor em tecnologia e material de ponta que nenhum hospital particular em Goiás possui. Seis médicos voluntários, alguns vindos de outros estados, ajudaram na operação”, disse.
Segundo o diretor técnico do hospital, André Resende, esta foi a primeira de muitas cirurgias de separação na unidade, inaugurada em janeiro de 2022. “Todas as equipes, assistenciais e de apoio, estavam empenhadas na previsão e provisão de insumos e equipamentos necessários para a cirurgia. A integração de todos os setores nesse processo foi fundamental para o êxito”, reforçou o diretor.
Desde 2021, Valentina e Eloá passaram por diversos atendimentos, sendo que todo o processo de separação tem três etapas. A primeira foi a colocação dos expansores – espécie de tecido que tem a função de estimular o crescimento da pele -, que aconteceu no ano passado. O segundo passo foi a própria cirurgia, e o último é o pós-operatório, momento muito importante para a recuperação das pacientes.