LILLE, França — O primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, anunciou nesta sexta-feira um pacote com 60 medidas para conter o que chamou de “ameaça gradual” representada pela radicalização islâmica no país — entre elas a criação de zonas de isolamento em penitenciárias e regras mais rígidas para escolas privadas religiosas. As disposições vêm após 22 outras, apresentadas em 2014, e 80 mais em 2016.
— Não podemos ignorar esse processo gradual. A radicalização islâmica é uma ameaça para nossa sociedade, e não apenas quando leva à violência. É um desafio todas as vezes que a lei do Estado confronta preceitos religiosos — afirmou o primeiro-ministro em uma coletiva de imprensa.
Entre as medidas anunciadas nesta sexta-feira, Philippe destacou a criação de zonas de isolamento para detentos radicalizados nas prisões. Serão criadas 1.500 celas para isolar presos que aderiram à radicalização islâmica, sejam aqueles que voltaram de zonas com influência jihadista, como Iraque e Síria, ou aqueles que manifestaram interesse pelo terrorismo apenas em terras francesas, sendo presos antes de se unirem a organizações em outros países. Centros de avaliação para a radicalização nas penitenciárias também aumentarão em número. A atitude pretende impedir que a influência radical cresça nas prisões — atualmente, as prisões francesas contam com 512 terroristas e 1.139 pessoas identificadas como “radicalizadas”.
Outro ponto que terá atenção especial, de acordo com o premier, será a maior regulação na criação e funcionamento de escolas particulares que tenham por base ensinamentos religiosos e ignorem a forma laica de educação pública praticada pelo governo. Atualmente o ensino particular reúne 74 mil alunos e está em forte progressão — 150 instituições foram abertas em 2017, contra 30 nos anos anteriores, lembrou Philippe. As medidas procurarão reforçar a opção pelo ensino laico e dificultará a abertura de novas escolas islâmicas, que podem ser alvo de fundamentalistas.
Além disso, o pacote também prevê maior fiscalização contra postagens radicais em redes sociais — que poderão ser excluídas em até uma hora — e colaboração com as empresas responsáveis para identificar os usuários responsáveis por transmitir as mensagens. Maior prevenção a partir de assistência social e fundos para ajuda psicológica, formação de uma rede mais forte com países vizinhos nas investigações de possíveis radicalizados e afastamento imediato de funcionários públicos com tendências radicais também foram pontos anunciados.
Após ataques executados por radicais islâmicos terem matado mais de 230 pessoas na França nos últimos três anos e políticas do ex-presidente François Hollande contra atentados e radicalização terrorista não terem surgido efeito, o governo de Emmanuel Macron é confrontado com a necessidade de criar planos efetivos contra o problema. O país conta com a maior comunidade islâmica na Europa Ocidental, com cerca de 5 milhões de pessoas.
Fonte: Jornal O Globo