Caos. Este pequeno e grave adjetivo define a situação das ruas de Caldas Novas nos últimos meses. A cidade das águas quentes, que recebe turistas de todo o Brasil o ano todo, está sofrendo com a falta de regulamentação de uma atividade importante para segmento turístico: a captação para vendas de multipropriedades imobiliárias. A abordagem pelos captadores tem sido feita de forma ostensiva e agressiva, surtindo efeito contrário e assustado não apenas os visitantes, como também os moradores da cidade.
O Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Caldas Novas e Rio Quente (Sindhorbs) tem recebido diversas reclamações de hóspedes e comerciantes. O presidente da entidade, Wellington Luiz, conta que está impossível andar pela região central da cidade sem ser abordado por pelo menos um captador. “Já vi pessoas correndo em frente aos carros e motos, atravessando no meio da pista, entrando em estabelecimentos comerciais e abordando pessoas que estão comendo com a família ou fazendo compras. É grotesco, feio, está afastando o nosso turista e revoltando nossos moradores”.
O Conselho Municipal de Turismo de Caldas Novas (Comtur) acredita, igualmente, que a situação seja preocupante. O presidente do conselho, Arivaldo Nogueira, descreve que a falta de controle tornou a atividade até perigosa. “Já houveram casos de agressão verbal e atropelamentos, pois os vendedores ficam transitando nas vias entre os veículos. Além de reclamação de turistas, residentes e comerciantes, observamos que os próprios captadores não se respeitam: pessoas relatam ser abordadas até por dois diferentes, cada um vendendo um produto”, revela.
De fato, a urgência em resolver a questão se dá porque a maior fonte de renda de Caldas Novas é o turismo. Juntamente com o setor de serviços, a atividade é responsável, segundo a Secretaria de Turismo do município, por 70% do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade. Em números, esse valor representa R$ 13.427.609,30 dos R$ 19.182.299,00, valor total do PIB da cidade de acordo com o senso do ano passado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda conforme informações da Secretaria, Caldas recebe quatro milhões de turistas de todo o Brasil por ano, sendo Brasília, Goiânia, interior de Goiás, São Paulo e o Triângulo Mineiro os principais destinos emissores nas altas temporadas e grandes eventos.
Wellignton ressalta que o interesse do sindicato não é prejudicar este segmento, mas sim normatizar a atividade. “A venda de multipropriedades é importante para a cidade, gera empregos e renda, mas precisa funcionar de forma ordenada e em um ambiente adequado. Precisamos acabar com este tipo de aproximação aos nossos visitantes”, explica. Por isso, o Sindhorbs está apoiando o projeto de lei, enviado pela Prefeitura de Caldas Novas para a Câmara Municipal, que deve vota-lo em alguns dias e que ordena a profissão de captador imobiliário na cidade.
Segundo a Procuradoria Jurídica do município, neste projeto constam medidas como a identificação do captador, com obrigatoriedade de uniforme e crachá, e profissionalização do atendimento, qualificando os trabalhadores para desenvolver este tipo de atividade. A Procuradoria reforça a posição também adotada pelo Sindhorbs, que é não lesar este mercado, relevante para a economia de Caldas Novas.
O presidente da Associação Comercial e Industrial de Caldas Novas (ACICAN), Daniel Pereira de Souza, também apoia o projeto da Prefeitura, e, assim como o sindicato, afirma que a associação não é contra os captadores. “Sou 100% a favor da regulamentação, pois do jeito que está funcionando está desorganizado. O trabalho dos captadores é algo digno que ajuda na economia da nossa cidade, já que o segmento de multipropriedades representa grande parte da venda dos apartamentos em Caldas Novas”.
Ainda de acordo com a Procuradoria, o projeto pretende respaldar o turista e o captador, prevendo multas a infrações e garantindo a privacidade dos indivíduos, e é baseado em projetos implementados com sucesso em cidades como Gramado, no Rio Grande do Sul. O presidente da ACICAN conta que esteve recentemente em Gramado, e garante que há maneiras de se fazer captação de multipropriedades imobiliárias de forma menos invasiva, sem atrapalhar o trânsito e as pessoas. “Os captadores devem trabalhar dentro dos seus estabelecimentos ou na porta de seus empreendimentos, e não nas vias públicas como acontece hoje em Caldas”, diz Daniel.
O presidente do Sindhorbs reitera que organizar a profissão ajudará a reverter a mídia negativa feita em Caldas Novas em detrimento da agressividade das abordagens. “A situação é tão crítica que chegamos ao ponto de ver carros com dizeres como ‘Não quero! Obrigada!’ no para-choque. Temos certeza que a normatização será salutar para a cidade”. Arivaldo, presidente do Comtur, concorda. “Vamos tirar esse pessoal da rua e garantir que todo mundo continue apresentando seus produtos, mas de forma legal e sem incômodos. Visamos o bem-estar do turismo, mas principalmente do turista”.
Fonte: Ascom