O evento “Césio 137 – 30 anos do acidente em Goiânia: memórias e reflexões”, promovido pelo Ministério Público Federal em Goiás (MPF) para lembrar a tragédia ocorrida em 1987, teve a participação da sociedade em geral, como estudantes, vítimas do acidente, além de representantes dos órgãos públicos envolvidos diretamente com o acidente e suas consequências.
Realizado ontem 12 de setembro, o evento lotou o auditório da Procuradoria da República em Goiás. As memórias e reflexões sobre o “acidente” deram a tônica do encontro, que também apresentou à sociedade toda a atuação do MPF nos últimos 30 anos e prestou uma homenagem às vítimas, muitas delas presentes.
Após abertura feita pelo chefe da Procuradoria da República em Goiás, Marcello Santiago Wolff, a procuradora da República Léa Batista de Oliveira Moreira Lima fez o lançamento do site criado pelo MPF em Goiás contendo todas as informações sobre a atuação da instituição no caso do acidente com o Césio, desde o oferecimento da denúncia em novembro de 1987. Após, deu início aos debates com a leitura de brilhante voto do ministro Herman Benjamim em um dos processos judiciais movidos pelo MPF sobre a temática, que sintetizou, de modo claro, o ocorrido, passando a palavra aos componentes da mesa para o início das discussões.
Manifestaram-se o físico Walter Mendes Ferreira, representante da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e diretor de rejeitos radioativos, com o relato de sua atuação na época do acidente, que também o vitimou. Em seguida, o senhor André Luiz de Souza, diretor do Centro de Assistência aos Radioacidentados (C.A.R.A), expôs o trabalho da entidade na condução/apoio do tratamento das vítimas. A senhora Suely Lina de Moraes, também componente da mesa e presidente da Associação das Vítimas do Césio 137, agradeceu a promoção do evento, ressaltando a sua importância, e relatou sua experiência como vitimada do episódio. O Presidente da Associação dos Militares Vítimas do Césio 137, Santos Francisco de Almeida, com a palavra, fez diversos contrapontos, indicando as mazelas e a falta de avanço no tratamento e no pensionamento às vítimas policiais.
Para encerrar os debates iniciais, a professora doutora em Antropologia e professora aposentada da Universidade Federal de Goiás, Telma Camargo da Silva, falou sobre as temporalidades do evento ocorrido com o Césio 137, norteada por duas indagações principais: quando iniciou a tragédia e quando termina?, ponderando, entre outras diversas reflexões, que o episódio e as mortes dele decorrentes tiveram início com mudança de endereço da clínica e suas respectivas omissões e descaso, e que o final do episódio ainda não pode ser vislumbrado nos próximos 300 anos.
Após, foi formada uma segunda mesa composta pelos membros do MPF atuantes no caso à época dos acontecimentos – procuradores da República Franklin Rodrigues da Costa, Wagner Natal e Celso da Cunha Lima –, bem como nos dias atuais, procurador Ailton Benedito, que presidiu a segunda rodada de exposições. Os membros do MPF discorreram sobre sua atuação e seu sentimento frente ao episódio, bem como a resposta do Judiciário nos casos em que atuaram, solidarizando-se com as vítimas.
Em seguida, aberta a discussão para o público presente, três vítimas de primeira geração e uma de segunda, representando as dezenas de vítimas diretas e indiretas do trágico episódio – também presentes no auditório em expressivo número –, puderam manifestar-se, apresentando, em tom de denúncia e desabafo, suas insatisfações e apontando as diversas omissões do Poder Público, bem como algumas omissões do C.A.R.A.
Em resposta, o procurador da República Ailton Benedito comprometeu-se a adotar medidas de sua alçada e orientou as vítimas na busca de seus direitos. O procurador se solidarizou, ainda, com a necessidade de preservação da memória e do respeito às vítimas, criticando, com veemência, a nomenclatura da entidade assistencial “C.A.R.A” (antiga Fundação Leide das Neves e Superintendência Leide das Neves), a seu ver inadequada. Ao final, homenageou os policiais militares e civis vitimados pelo acidente durante o trabalho prestado de socorro às vítimas e de proteção à sociedade goianiense.
Finalizados os debates no auditório e para encerrar o evento, todos foram convidados para o lançamento da exposição de artes (pintura sobre telas), com a temática sobre o Césio 137, de artistas plásticos ligados à Associação Goiana de Artes Visuais (AGAV). Aberta ao público, a exposição permanece na sede do MPF em Goiás até o dia 6 de novembro próximo.