Sociedade

Em entrevista à Veja, Marconi analisa destinos do PSDB e do Brasil

Em entrevista à Veja, principal revista semanal do País, o governador Marconi Perillo analisa os destinos do PSDB e do Brasil a pouco mais de um ano das eleições presidenciais e é questionado sobre sua eventual disposição em assumir o comando da legenda e de disputar o Palácio do Planalto em 2018. Na entrevista, publicado no portal de Veja na noite deste ontem, 12, a revista afirma que Marconi "é um dos principais nomes do PSDB" e aborda o governador sobre o apoio ao governo do presidente Michel Temer, o debate interno no partido, a discussão sobre o programa de governo a ser apresentado na corrida eleitoral e a escolha do presidenciável tucano.

Questionado por Veja sobre o intenso debate no partido sobre a permanência do PSDB na base de apoio de Temer, Marconi ponderou que a legenda "foi o principal fiador do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT)". "Um partido democrático como o PSDB precisa conviver – e sempre conviveu – com diferentes opiniões em relação a diversos temas. O PSDB foi o principal fiador do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Além disso, também assumiu responsabilidades em relação ao país", disse Marconi.

O governador afirmou que o partido "acertou com o presidente Temer uma agenda voltada para a retomada do crescimento econômico e para outras reformas" e que "esse foi o grande compromisso que o PSDB fez com a nação ao apoiar o governo de transição do presidente Temer". "Todo esse contexto precisa ser analisado. No caso da denúncia, muitos do PSDB concluíram que era necessário continuar apoiando a agenda de reformas. Outros acharam que a iniciativa que requeria autorização para investigar o presidente era importante", afirma Marconi, na entrevista, realizada em São Paulo, durante a participação do governador no encontro do Conselho Nacional do Movimento Brasil Competitivo.

Marconi disse que "o PSDB precisa, sim, fazer uma autocrítica" sobre seus destinos como um dos principais partidos do País, afirmando que esse processo deve ocorrer por meio de um amplo debate interno entre seus filiados e em sintonia com os eleitores da legenda. "Essa autocrítica precisa ser iniciada dentro do partido, nas instâncias deliberativas, nos diretórios e em fóruns de discussão com a sociedade", disse o governador de Goiás.

"O PSDB terá várias maneiras de discutir um novo programa, mas eu não sei se o PSDB deveria fazer esse tipo de programa e de autocrítica sem que houvesse um debate", afirmou Marconi a Veja. "De repente, esse tipo de programa poderia ter sido feito após uma discussão do partido, que seria gravada e poderia ser transformada num programa para ser levado à apreciação da opinião pública. O PSDB precisa, sim, fazer autocrítica. Já está fazendo e precisa intensificar isso, começando pela catarse interna", disse o governador.

Leia a íntegra da entrevista do governador Marconi Perillo à revista Veja:

“Os bons não podem pagar por poucos ruins”. É assim que pensa o governador de Goiás, Marconi Perillo, um dos principais nomes do PSDB, sobre a iniciativa do partido, que ele desaprova, de assumir erros sem consulta às lideranças da sigla. A legenda divulgou um vídeo nesta semana em que admite ter errado, sem especificar quando, onde ou como. A resposta, provavelmente, estará no programa que será exibido na TV no próximo dia 17. “Quem eventualmente cometeu erros deve pedir desculpas. Não diria o partido como um todo.” Perillo, citado nas delações da Odebrecht e alvo de um inquérito sobre suposto favorecimento à JBS, diz que é obrigação do PSDB apoiar todas as investigações. “Mas não podemos aceitar que biografias sejam jogadas na lata de lixo sem que haja comprovação em relação aos crimes.”

Amigo há mais de 20 anos do prefeito de São Paulo, João Doria, ele fica em cima do muro ao tratar das opções do partido para a disputa presidencial em 2018 – além de Doria, há o governador Geraldo Alckmin. Segundo ele, caso não haja consenso, o remédio será realizar prévias. Perillo, que pode disputar a presidência da sigla em dezembro, defende que o PSDB siga no governo do presidente Michel Temer (PMDB) para apoiar a agenda de reformas.

A votação da denúncia contra o presidente Michel Temer deixou evidente que há um racha no partido, com 22 votos a favor do arquivamento e 21 contrários. Qual avaliação o senhor faz?
É preciso respeitar as opiniões de cada deputado. Um partido democrático como o PSDB precisa conviver – e sempre conviveu – com diferentes opiniões em relação a diversos temas. O PSDB foi o principal fiador do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Além disso, também assumiu responsabilidades em relação ao país. Acertou com o presidente Temer uma agenda voltada para a retomada do crescimento econômico e para outras reformas. Esse foi o grande compromisso que o PSDB fez com a nação ao apoiar o governo de transição do presidente Temer. Todo esse contexto precisa ser analisado. No caso da denúncia, muitos do PSDB concluíram que era necessário continuar apoiando a agenda de reformas. Outros acharam que a iniciativa que requeria autorização para investigar o presidente era importante.

Onze dos votos pela admissibilidade da denúncia partiram de São Paulo. O que isso quer dizer?
Cada deputado votou de acordo com as suas consciências. São Paulo é um estado onde a pressão e a crítica são mais acentuadas, então imagino que vários foram os fatores que levaram a bancada paulista a ter esse comportamento. Eu respeito, não imagino o governador Geraldo Alckmin interferindo, assim como eu também não interferi em Goiás. Prevaleceu o respeito à atividade congressual e à liberdade dos deputados de fazerem escolhas.

Essas dissonâncias trazem consequências para o partido num momento em que se preza pela união em torno de um novo programa, de um candidato à Presidência…
O PSDB tem uma tradição de ter um debate vivo em relação a teses e ideias, mas sempre se manteve unido em todas as eleições para a diretoria e nas escolhas de candidatos à Presidência. Sempre tivemos mais de um candidato antes do processo das convenções, mas, ao chegarmos perto, sempre houve convergência em relação aos projetos e a quem concorreria. Nunca tivemos até aqui divisões sérias e que pudessem comprometer nossa unidade em relação aos processos eleitorais.

Houve nesta semana a veiculação pelo PSDB de um vídeo que trata de acertos da sigla, mas também admite erros, sem especificá-los. Quais foram?
O erro foi o fato de não termos sido consultados. Conversei com vários agentes do partido, governadores, ministros, senadores e prefeitos. Todos reclamaram que não foram ouvidos nem informados sobre o conteúdo do programa que foi ao ar. Há uma boa intenção, mas a forma foi equivocada. Um programa que deseja ser inovador, que deseja chocar, merecia a consulta de todas as pessoas que lideram o partido em Brasília e em diversos estados.

Mas o senhor acredita que o PSDB errou?
Todos os partidos acertam e erram. Na balança, o PSDB acertou muito mais do que os eventuais erros cometidos. Isso é algo muito evidente.

O que a população pode esperar do programa que será divulgado no dia 17?
Eu não posso dizer, porque não conheço o programa. Não vi e não fui consultado. Não será um programa desonesto, mas lamento não termos tido a oportunidade de discuti-lo.

Foi um erro de estratégia do senador Tasso Jereissati?
Quero evitar dizer se foi um erro ou não. Eu só quero lamentar que o conjunto do partido não foi chamado para participar desse tipo de discussão.

Muitas dos críticos ao PT dizem que falta ao partido fazer uma autocrítica por conta do seu envolvimento em corrupção. O senhor não acha que também falta essa autocrítica ao PSDB?
Essa autocrítica precisa ser iniciada dentro do partido, nas instâncias deliberativas, nos diretórios e em fóruns de discussão com a sociedade. O PSDB terá várias maneiras de discutir um novo programa, mas eu não sei se o PSDB deveria fazer esse tipo de programa e de autocrítica sem que houvesse um debate. De repente, esse tipo de programa poderia ter sido feito após uma discussão do partido, que seria gravada e poderia ser transformada num programa para ser levado à apreciação da opinião pública. O PSDB precisa, sim, fazer autocrítica. Já está fazendo e precisa intensificar isso, começando pela catarse interna.

O partido deve desculpas à sociedade?
Quem eventualmente cometeu erros, algum tipo de equívoco ou crime, deve pedir desculpas. Não diria o partido como um todo. Os bons não podem pagar por poucos ruins.
   
Causam constrangimento ao PSDB as articulações do senador Aécio Neves para recuperar o protagonismo que tinha antes do escândalo da JBS?
No estado democrático de direito, está esculpido na própria Constituição o direito ao contraditório e à ampla defesa. O presidente licenciado estará exercendo a sua defesa. Quem o acusa terá de provar se as acusações são verdadeiras ou falsas, se isso não foi uma armação para que determinados grupos empresariais pudessem se safar da Justiça. Em um caso recente, o de Furnas, a própria Polícia Federal disse que ele não tem qualquer tipo de envolvimento. O Aécio tem uma biografia e vai batalhar muito para preservá-la. É indiscutível que ele foi um bom governador de Minas e que tem um passado que precisa ser considerado.

O senhor considera acertada a decisão dele de seguir licenciado da presidência do partido?
Acho que sim. Aécio achou por bem se defender se licenciando do partido. Tasso Jereissati, segundo o acordo, ficará até o fim do ano, quando haverá uma eleição. Defendo que o calendário seja cumprido e que as eleições sejam realizadas em abril ou maio de 2018, mas, se essa é a decisão da Executiva, eu concordo e acho que o PSDB está em boas mãos.

Houve movimentação para que o senhor se candidatasse à presidência do partido. Tem essa pretensão?
Seria impossível compatibilizar o exercício da função de governador com as múltiplas agendas de presidente de um partido com a envergadura do PSDB. O presidente terá enorme responsabilidade tanto em relação às prévias que definirão o candidato a presidente da República quanto com a mobilização do partido em torno de um novo programa, principalmente no que diz respeito à eleição do ano que vem. O PSDB terá de apresentar um bom projeto para o país, que deverá ser elaborado internamente, escutando todos os segmentos do partido e as vozes da sociedade. Teremos que dialogar e ouvir muito.

Se o senhor se candidatar a algo em 2018, terá de deixar o governo até abril. Se a disputa para a presidência do partido for em dezembro, dá para viabilizar sua candidatura?
Teria um pouco mais de tranquilidade, na medida em que não teria a agenda tão intensa, como é a de um governador. Ainda não me defini com relação ao futuro ou a eventuais candidaturas. Vou deixar mais para frente.

Como o senhor avalia a ascensão de Doria? Todo o marketing em torno dele e as viagens pelo Brasil possuem um caráter eleitoreiro?
Sou amigo do João Doria há 20 anos, tenho profunda admiração por ele e pela liderança que ele já exercia no grupo empresarial Lide. Ele é irrequieto, muito organizado, trabalhador e sintonizado com as ferramentas do mundo tecnológico. É impressionante o quanto ele é requisitado para ir aos lugares, ele não está pedindo para viajar.

Alckmin é a melhor opção do PSDB para ser presidente?
O governador já foi a melhor opção em 2006. Eu apoiei firmemente não só na eleição, mas antes também. Ele continua sendo um excelente pré-candidato à Presidência. Se decidir levar essa candidatura adiante, será muito competitivo. Resta saber se o PSDB terá outros nomes que vão pleitear o mesmo espaço. Se isso acontecer, temos um remédio chamado de prévias.

Doria seria o outro candidato a que o senhor se refere?
A mais espetacular vitória do ano passado, a mais comemorada, foi a de João Doria. Eu tinha certeza que ele ganharia, mas houve uma surpresa geral quando ele venceu no primeiro turno. Pelo que conheço dos dois, não vejo qualquer possibilidade de disputa entre eles. O governador sempre me disse isso, e o prefeito deixou publicamente seu comprometimento de trabalhar pela unidade do partido e de estar junto com o governador. Agora, o PSDB não é só São Paulo, existem outras pessoas que poderiam disputar as prévias.

O senhor poderia disputar?
Eu poderia. O [governador do Paraná] Beto Richa poderia. Mas esse assunto não está sendo discutido agora. Meu projeto é concluir bem o meu mandato de governador. O que eu digo é que um projeto de partido como o nosso não pode se resumir só a São Paulo. Todos terão de ser ouvidos e poderão postular espaços maiores no partido.

O partido bateu muito na tecla da corrupção ao disputar as eleições presidenciais de 2014 com o PT. Agora, com o PSDB envolto em escândalos, como o tema será tratado em 2018?
O partido apoiará todas as investigações que ocorrem em Brasília, nos estados e nos municípios. Também defenderá que as apurações sejam rigorosas e que não sejam feitos pré-julgamentos. É inadmissível que biografias sejam destruídas por denúncias que não se sustentam. O PSDB defende todas as investigações, mas não pode aceitar que biografias sejam jogadas na lata de lixo sem que haja comprovação em relação aos crimes.

O senhor foi citado como beneficiário de caixa dois na delação da Odebrecht e responde a um inquérito que apura um suposto favorecimento à JBS em um programa estatal de isenções de impostos. Essas menções prejudicam as suas ambições eleitorais?
Uma coisa é você ser citado, outra é ter a comprovação. O meu caso da Odebrecht é muito semelhante ao do Espírito Santo, que resultou no arquivamento da denúncia em relação ao governador [Paulo Hartung, do PMDB]. Eu não tenho nenhuma preocupação com isso, não tenho qualquer relação com desvios ou mal feitos no caso da Odebrecht. No caso da JBS, eu não sou citado em nenhum depoimento. E nenhum favorecimento ao grupo foi feito sem que tenha sido estendido a todas as outras empresas do estado de Goiás.

O senador cassado Demóstenes Torres, flagrado fazendo negócios com o contraventor Carlinhos Cachoeira que supostamente seriam em nome do senhor, disse que pretende voltar à política e negocia com o PTB. Como o senhor avalia esse possível retorno?
Quero dizer que nenhuma tratativa do Demóstenes e do Carlos Cachoeira em relação ao meu governo resultou em qualquer benefício para ele ou para quem quer que seja. Não houve qualquer tratativa comigo em relação a qualquer beneficio. Pelo contrário, durante esse período houve forte apreensão de máquinas caça-níqueis no estado. Se o Demóstenes tiver condições de ser candidato, ele será candidato. Ele já disse que deseja voltar e certamente terá adeptos e eleitores. E terá chance de ser eleito.

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