Sociedade

Conjuntura – Jovair, o relator

Depois de anos e anos apoiando o governo do PT, o petebista goiano vai continuar leal aos velhos aliados ou vai, como folha de bananeira, virar-se para o lado que vento soprar?

Por: Marina Remy 

O parlamentar que vai relatar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, Jovair Arantes, é um velho comensal do Palácio do Planalto. Nos tempos de Fernando Henrique Cardoso, ele já transitava livremente por todos os ministérios de Brasília. Com a chegada do PT ao poder, ele trocou o PSDB pelo PTB, partido que está, teoricamente, na base aliada do governo Dilma. Por sua devoção ao governo federal chegou a ter sua expulsão solicitada por Roberto Jefferson, chefão informal da sigla e dissidente do governismo.

Muita gente pode ver no deputado que tem tantas credenciais governistas um provável aliado de Dilma. Que ninguém se engane, porém. Jovair é um político pragmático. Embora formado em odontologia, Jovair exerce mesmo é a política como profissão. Daí que não é plausível supor que ele coloque sua carreira em jogo por conta de lealdade ao aliado em derrocada. Jovair faz parte daquela geração de políticos que cedem aos rugidos da população ensandecida, ao humor da mídia. Ele não segura em alça de caixão.

A grande surpresa será se ele exarar relatório favorável a Dilma. Terão falado mais alto, então, as suas origens esquerdistas. Jovair entrou na política pelas mãos de Henrique Santillo, um homem que sofria todas as consequências desasatrosas de ser fiel às suas convicções. Santillo pagou caro por ter, ao longo de sua vida, assumido posições justas, apesar de minoritárias. Democrata radical e corajoso ao extremo, Santillo era espiritualmente próximo do PT e de Lula. Quando em Goiás todos ficaram ao lado de Iris contra Ulysses Guimarães, ele ficou do lado do velho timoneiro. A partir daí, sua carreira começou a ser destruída pelo irismo revanchista.

Jovair começou vereador pelo PMDB. Para as eleições ao governo de 1990, o todo poderoso Iris Rezende decidiu excluir os santillistas da chapa proporcional do PMDB. Adhemar Santillo, o santillista que ainda tinha algum diálogo com Iris, negociou duramente com ele a inclusão de pelo menos três nomes. Adhemar saiu da reunião amarrotado. Foi humilhante para ele pedir por seus correligionários. Iris aceitou incluir Marconi Perillo e Jovair Arantes para deputado estadual e Antônio Faleiros para federal.

Em 1992, Jovair compôs chapa com Darci Accorsi para a prefeitura municipal de Goiânia. Eleito vice-prefeito, foi nomeado por Darci, o prefeito petista, presidente da Comurg, a mais importante estatal da municipalidade. A Comurg foi a plataforma de onde ele saltou para a Câmara Federal. Eram tempos em que PT e PSDB se irmanavam na oposição ao Irismo. A maior parte dos fundadores do PSDB goiano tinha passado pelo PT. Durante anos as duas correntes mantinham afinidades ideológicas e partilhavam nostálgicas lembranças das lutas contra a ditadura.

A ditadura os uniu; a democracia os separou. O PT já de início fez forte oposição aos governos Fernando Henrique. E, quando Marconi chegou ao poder em Goiás, o PT rompeu com os tucanos os últimos laços de camaradagem. Jovair, contudo, preferiu o melhor dos mundos: Marconista em Goiás, Lulista e Dilmista em Brasília. Agora, tal como a folha de bananeira, deverá se inclinar para a direção que os ventos soprarem.

Jovair está filiado a um partido cuja sigla é PTB – partido trabalhista brasileiro. Tem este partido, fundado por Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio, a pretensão de ser o herdeiro das lutas nacionalistas, desenvolvimentistas e trabalhistas do velho PTB de Alberto Pasqualini e Getúlio Vargas. De João Goulart e Rubens Paiva. Esta herança, contudo, foi impugnada pelos renascentes do PTB histórico, com Leonel Brizola e Darci Ribeiro à frente, os fundadores do PTB.

Será que passará pela cabeça de Jovair que o que acontece no Brasil este momento é um tipo de conspiração golpista, mascarada de legalidade igual a que levou Getúlio Vargas ao suicídio e levou João Goulart ao exílio como insistem os petistas? Ou o deputado terá a decência de reconhecer que as bases esquerdistas que ele apoiou até agora não passam mesmo de um bando de criminosos que transformou o palácio em um bunker ideológico financiado por dinheiros advindos de empreiteiras que assaltaram a Petrobrás? Depois que Jovair entregar seu relatório – que, ouso profetizar, será contra Dilma -, este PTB que aí está poderá honrar o nome de Getúlio Vargas? Ou será apenas um partideco fisiológico comprometido com as práticas ilegais de Dilma e sua turma? Somente Jovair poderá responder.

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